Jornada Rumo Ao Ser
- Ale Toledo
- 4 de abr. de 2020
- 3 min de leitura
A Compreensão de Nossa Real Natureza Plena
“Peguemos nossas coisas e retornemos ao Mestre, que é lá nosso lugar”. Esse é um trecho de um poema místico escrito pelo grande poeta persa, Rumi, que traduz bem a concepção que temos sobre o caminho espiritual como sendo uma jornada a da alma rumo ao Ser. Essa mesma ideia se expressa no Bhagavad Gita, no qual o guerreiro Arjuna luta no campo Kurukshetra contra seus primos, parentes e mestres, simbolizando a luta entre tendências positivas e negativas que acontece em cada ser humano em busca do Divino.

É fato que para fins de compreensão e transmissão do conhecimento, todas as tradições místicas sempre se valeram de símbolos, analogias e metáforas, pois essa é a única maneira possível para tentar explicar as experiências diretas experimentadas pelos sábios.
E isso não é algo tão complexo de entender ou aceitar. Por exemplo, imagine que um extraterrestre (que fala português rsrs) pouse em sua frente nesse momento. Ele não sabe o que é água, não tem nenhuma referência do que seja essa substância. Como você explica para ele qual é a sensação de entrar em mar, ou em uma piscina, a sensação de estar banhado por água? Qualquer explicação que você queira dar, terá, inevitavelmente, que ser feita através de analogias e metáforas. No entanto, a explicação será sempre muito distante da experiência direta.
Esse fato já nos leva a uma primeira desilusão no caminho espiritual. Sempre buscamos respostas, queremos que alguém, algum professor, mestre ou guru, nos revele a verdade. Terceirizamos a nossa busca esperando encontrar conforto nas palavras daqueles que aos quais intitulamos “iluminados”. E é fato que tais mestres nos mostram um caminho, nos conduzem a uma percepção mais clara de nós mesmos, mas suas palavras apenas apontam para a verdade, não são em si a verdade sobre o conhecimento do Ser, pois esta verdade só pode compreendida através da experiência direta.
Isso significa então que, como dizem as diversas tradições, eu preciso partir em uma jornada para alcançar a consciência do todo? Para responder essa pergunta, vamos aqui partir para uma investigação. No Taoísmo, Lao Tse diz que tudo é o Tao. Nos Vedas, os Rishs dizem que tudo é Brahman (Ekam, um sem um segundo). No budismo diz-se que tudo é consciência de Buda. No tantra afirma-se que tudo é Shiva. Se todas essas tradições apontam para visão da não-dualidade, percebemos duas coisas: a primeira é que cada uma usa seus símbolos para expressar a mesma visão. A segunda é que se tudo é uma coisa só, a ideia de “jornada” no caminho espiritual para se atingir o Ser, muito provavelmente desse ser uma metáfora utilizada para transmitir o conhecimento.

Continuando nossa investigação, olhamos agora para as nossas experiências. Tudo o que a gente conhece do mundo é dado através dos nossos sentidos. A base para toda experiência é a consciência. Esta é permanente e imutável. Ela é nesse momento, a mesma da que estava nas experiências de quando você tinha 5 anos de idade. Não há separação, nunca houve, nem haverá. Não há nem mesmo evolução, mudança, transformação. O observador (a consciência) é exatamente o mesmo. O que mudaram foram os pensamentos, as sensações, os sentimentos, mas aquilo que observa tais mudanças (chamado de Drastuh por Patanjali, a própria consciência) permanece imutável. Dessa forma é impossível separar a consciência da experiência, pois ela se envolve intimamente com as experiências. As experiências são a própria manifestação da consciência.
Iluminação é tomar consciência da consciência! Ou seja, ter a percepção clara do observador que sempre esteve presente, mas que talvez tenha sido ofuscado pela identificação com os pensamentos e sentimentos. Então só o que nos resta é ter essa clareza daquilo que já está aqui. É como um ator que se tivéssemos uma atriz chamada Beatriz e ela interpreta a Rainha Victória em um teatro. Por alguns momentos, a Beatriz abandona seu papel social para interpretar o papel de uma Rainha. Mas quão distante está a Rainha da Beatriz? Não existe distância, pois não existe separação. Ao fim do teatro a Rainha não terá que fazer uma jornada de volta ruma à Beatriz, é apenas um dar-se conta, é mais instantâneo, não se prende no tempo. Da mesma forma, não existe jornada rumo ao Ser, pois isso já é o que somos, basta dar-se conta.
Enquanto você lê essas palavras, você está concordando ou discordando, achando bom ou ruim, focado ou distraído, confortável em uma cadeira, com fome ou não, com frio ou calor, tenso ou relaxado. A pergunta é: quem está por traz de todas essas experiências, sendo testemunha de tudo? Dê-se conta disso agora!

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